15 anos sem Darcy Ribeiro

Há 15 anos morria Darcy Ribeiro, no dia 17 de fevereiro de 1997. Aos 74 anos, o sempre jovem e irrequieto educador, deixava de herança ao povo brasileiro uma história de muito trabalho, dedicação e amor pelo Brasil.
Homem de várias peles, como ele mesmo se traduzia, Darcy Ribeiro, o etnólogo indigenista, educador, político e escritor não se afastou durante toda a sua vida do desafio de inventar o Brasil que nós queremos.
Para homenagear Darcy, o site do PDT, nesses próximos dias, publica um pouco do seu pensamento, dos seus fazimentos.
Chamado por Leonel Brizola como “Apóstolo da Educação”, por ser um dos maiores lutadores pela causa da Educação, Darcy dedicou-se a criar uma nova proposta educativa com os Centros Integrados de Educação Pública, os Cieps. Um projeto que contou com a genialidade do arquiteto Oscar Niemeyer e foi implantado durante o governo Brizola no Rio de Janeiro.
Saiba um pouco mais, pelo próprio Darcy, sobre o seu trabalho dedicado à Educação das crianças brasileiras.
“Creio haver provado que só há uma solução para os problemas brasileiros da educação. Uma única. Exclusivamente uma: levar a educação a sério. É enfrentar a tarefa de criar, aqui e agora, para todas as crianças, a escola primária, universal e gratuita que o mundo criou” Darcy Ribeiro
Balanço crítico de uma Experiência Educacional
Por Darcy Ribeiro
Tive a grata oportunidade de conduzir, no Rio de Janeiro, amplos programas educacionais, seguramente os maiores e mais ambiciosos que se realizaram no Brasil.
(…) Falo dos Centros Integrados de Educação Pública – CIEPs, dos Ginásios Públicos – GPs que os complementam para ministrar educação básica. E também dos Centros Integrados de Apoio à Criança – CIACs, que nasceram de uma revisão do programa dos CIEPs. E, finalmente, das Casas Comunitárias – CCs, que constituem, de fato, a única invenção minha em matéria de educação.
Todos nós que participamos desse empreendimento sentimos a frustração de ver ameaçado nosso projeto educacional que efetivamente foi desativado e descaracterizado. Trata-se de um ato de vandalismo cultural só comparável ao que recaiu, há 60 anos, sobre Anísio Teixeira, que viu o seu programa educacional extinto por obscurantismo. Era o maior e melhor experimento de educação que se realizara em nosso País até então. Vivemos ainda hoje das idéias de Anísio, encarnadas naquela época por Pedro Ernesto em duas dezenas de grandes escolas públicas primárias, no Instituto de Educação e na Universidade do Distrito Federal. Soterradas todas pela onda fascista que invadiu o mundo. Hoje, o mesmo obscurantismo se repete, agora contra os CIEPs e contra os GPs. Por quê?
Ora, é sabido que a escola de turnos é uma perversão brasileira, que não existe no mundo civilizado. Por toda a parte, considera-se que só uma escola de tempo integral, para alunos e professores, dá garantia de uma escolaridade proveitosa a crianças oriundas de famílias que não estudaram. E elas constituem, entre nós, a imensa maioria. Por conseguinte, o retrocesso às escolas de turno só é explicável por sectarismo e ignorância. (…)
Diretrizes e Conteúdos
(…) A concepção pedagógica que orienta a ação educativa dos CIEPs tem como norma central assegurar a cada criança um bom domínio da escrita, da leitura e da aritmética, como instrumentos fundamentais que são para atuar eficazmente dentro da civilização letrada. Com base nesses elementos ela pode não só prosseguir estudando em regime escolar, como continuar aprendendo por si própria. Sem essa base, ao contrário, ela estará condenada à marginalidade e ao risco de cair em delinqüência. Isso é verdade sobretudo para a criança das áreas metropolitanas, que tem mais a escola do lixo e da criminalidade do que a escolaridade mínima indispensável para se realizar pessoalmente através do trabalho e para exercer conscientemente a cidadania.
Dar especial atenção a esses elementos essenciais não significa desprezar outros, tão somente impedir que se desatente para eles em favor de matérias menos cruciais. Aliás, a maior parte das coisas que uma criança deve aprender na escola primária, inclusive suas atitudes básicas diante da sociedade, da família, de si próprias, se comunicam é através das aulas de linguagem. Por isso mesmo elas devem ocupar mais que o dobro da duração de todas as outras matérias, para que haja tempo de cada aluno familiarizar-se com a língua culta falada pela professora e que lhe é estranha; obtendo, a seguir, informações básicas sobre o funcionamento da sociedade e, sobretudo, para aprender através de aulas, da leitura e da prática. (…)
(…) Uma preocupação muito presente no CIEP é a de integrar a cultura da escola com a cultura da comunidade, fazendo-as interagir fecundamente. Para tanto foi criada uma posição especial no seu quadro profissional: a dos Animadores Culturais, que relacionam a escola com seu contexto, oferecendo as facilidades com que ela conta – estádio esportivo, biblioteca, salão social e refeitório – para o uso comunitário, sobretudo nos dias em que não tem aula.
O animador atua, também, nos programas de recreação dos alunos, juntamente com as professoras de educação física. Essa última tem especial importância pela compreensão de que as crianças não estão por tantos anos na escola por necessitar de todo esse tempo para aprender o que ali aprendem, mas, principalmente, para crescerem fortes, sadias e alegres. Outro elemento distintivo do CIEP é o valor que dá às atividades concernentes à Saúde e Educação seja pela compreensão do que é saúde e enfermidade, seja pela difusão das práticas higiênicas mais recomendáveis a seus alunos, e através deles a suas famílias. (…)
(…) Como se vê, os CIEPs atendem aos três requisitos essenciais de uma escola popular eficaz. Espaço para a convivência e as múltiplas atividades sociais durante todo o largo período da escolaridade, tanto para as crianças como para as professoras. O Tempo indispensável, que é igual ao da jornada de trabalho dos pais, em que a criança está entregue à escola. Essa larga disponibilidade de tempo possibilita a realização de múltiplas atividades educativas, de outro modo inalcançáveis, como as horas de Estudo Dirigido, a freqüência à Biblioteca e à Videoteca, o trabalho nos laboratórios, a educação física e a recreação.
O terceiro requisito fundamental para uma boa educação é a Capacitação do Magistério. Por mais que se desenvolva a tecnologia educativa, o professor continua sendo o nervo da educação. Só através dele e de seu preparo adequado, a escola alcança, com seus alunos, dos mais fracos aos mais habilidosos, aquele domínio essencial dos instrumentos de comunicação social e cultural. Os CIEPs responderam a esse requisito com seus cursos de Educação a Distância e também com cursos especiais para o adestramento do pessoal administrativo e do pessoal de serviço.
Fonte: www.jspdt.org.br
Publicação: 14/04/2012